Faleceu na madrugada da quarta-feira (16), às 1h30, no Hospital São Paulo, o médico e ex-vereador, Eduardo Lauand, aos 87 anos.
Ginecologista e obstetra por 49 anos, Dudu Lauand fez ao menos 50 mil partos na cidade, entre eles os de alguns vereadores, como Juliana Damus e os ex-parlamentares Carlos Nascimento, Anuar de Oliveira Lauar (Turquinho), Edmilson de Nola Sá e Ronaldo Napeloso.
Nascido em Araraquara no dia 9 de novembro do ano de 1928, Dudu é filho de Abdala Jorge Lauand e Nazira Lauand. Era viúvo de Sely Lauand, com quem teve os filhos Mauricélio, Tereza Nazira, Izabel Cristina e Abdala Neto.
Foi eleito Vereador em três Legislaturas seguidas, entre 1997 e 2008. Foi presidente do Legislativo araraquarense no biênio 2003/2004. Foi também candidato a vice-prefeito, nas eleições de 1988. Até 1999 estava filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). A seguir integrou o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) – até 2003, quando retornou ao PMDB. Desligou-se definitivamente da vida político partidária ao final do ano de 2008, não mais concorrendo a uma cadeira na Câmara. Já poderia ter sido vereador muito antes, quando, em 1963 candidatou-se e recebeu da população mais de quatro mil votos, um número expressivo à época, num colégio eleitoral muito menor do que o atual. Porém, seus votos foram anulados já que a identificação nas cédulas de papel era diferente da oficialmente registrada no Cartório Eleitoral. Os eleitores escreveram nas cédulas “presidente da Gota”, “médico da Gota de Leite”. E foi a maternidade que o levou para a política, atrás de verbas para a manutenção do serviço. Obteve êxito conseguindo a construção do prédio anexo, inaugurado em 10 de setembro de 1993. O Hospital da Mulher “Nály Lauand Thomé” conseguiu zerar o número de mortalidade materna durante o parto, conseguindo consequentemente um dos menores índices de mortalidade infantil do mundo.
Trabalhou muito pela maternidade, tanto que sua história de vida se confundia com a história da Gota de Leite, mesmo ela tendo surgido em janeiro de 1928. Ajudou a carregar macas pela escada, já que não havia elevador. Presidiu a Gota diversas vezes entre 1983 e 2005. Segundo Lauand “ninguém queria assumir a bucha”. Nos vários episódios de dificuldade financeira dispôs de recursos financeiros pessoais para manter o atendimento gratuito. Em 2006, por conta de dificuldades financeiras, a Prefeitura fechou o hospital. No dia 8 de março de 2012 a Maternidade foi reaberta, controlada por uma Fundação gerida pela Prefeitura de Araraquara.
Ajudou a povoar a cidade
O seu sonho de ser advogado foi substituído pela Medicina, a pedido de sua mãe, que desejava ter um filho médico, mesmo que naquela época ele afirmasse não suportar ver sangue. Estudou Medicina no Rio de Janeiro por seis anos. Ainda assim pretendia ser Pediatra. Novamente a pedido da mãe especializou-se em cirurgia. Retornou formado à Araraquara, no dia 14 de maio de 1957, contratado pela Maternidade Gota de Leite. Logo na primeira meia-hora do dia seguinte fez seu primeiro parto. Lembrou em uma entrevista à revista Kappa Magazine, em março de 2012, que o bebê estava enroscado e a mãe passando mal, fazendo sua primeira cesárea às pressas. Havia dias que em que fazia partos de manhã até o início da noite, trabalhando na Gota e na Santa Casa.
Seu empenho para que os partos deixassem de ser feitos na casa das pacientes e os nascimentos ocorressem no hospital, por causa de sua preocupação com as complicações, começou a mudar a cultura dos nascimentos em Araraquara. Cerca de 50 mil crianças nasceram por suas mãos. Brincava dizendo que ajudou a povoar a cidade, já que, quando chegou, em 1957, a cidade tinha 45 mil habitantes e 40 médicos. Sempre foi grande defensor do parto natural. Fez o parto de seus filhos e netos, todos na Gota de Leite. Fez ainda parto dos filhos de crianças que nasceram por suas mãos, e de netos e até bisnetos. Sua experiência lhe permitia avaliar nos exames se a criança teria má formação e, em alguns casos, até mesmo retardo mental.
Bem humorado
Lauand gostava muito de contar piadas e não era difícil proporcionar momento de gargalhadas. Em uma entrevista à revista de humor “O Caricato”, em janeiro de 2004, brincou dizendo que nunca havia se arrependido de ter trazido alguém ao mundo. “Não, não dá pra se arrepender. É um ato tão fantástico e somos dotados desse privilégio.” Contou na mesma entrevista que já era conhecido no meio médico por dar grandes sustos nos representantes de laboratórios de medicamentos. Certo dia, para fazer o “batismo” de um novo representante, que dizia que o produto era bom, levantou-se bravo e disse: “O senhor tá querendo induzir meu raciocínio a respeito deste remédio? Tá dizendo que ele cura tudo?”, sacando um revolver de festim e dando um tiro. Assustado, o representante queria pular pela janela do consultório, desmaiando ao trombar com uma estante.
O obstetra Elias Zakaib, seu amigo, disse na mesma entrevista que o Dudu Lauand fez o parto do Ano Novo e ele foi seu auxiliar.
Publicado em: 16/12/2015 11:24:23