Após a morte da jovem de 26 anos, Thainá de Cássia, ocorrida no dia 31 de janeiro, e o desencontro de informações referentes às vagas ocupadas por pacientes positivados por Covid-19, principalmente em UTIs, os vereadores Luna Meyer (PDT) e Marchese da Rádio (Patriota) protocolaram, no dia 1º de fevereiro, na Câmara Municipal de Araraquara, o Requerimento nº 90/2021, pedindo informações da Prefeitura sobre a estrutura de atendimento na cidade.
Segundo Luna, as notícias que circulavam sobre a morte da jovem precisavam ser esclarecidas. “Ouvimos falar que ela foi a óbito por conta de uma negligência no atendimento. Mas, para podermos cobrar a responsabilidade, precisamos de respostas”, frisava a parlamentar, entendendo “que não dá para mudar o que aconteceu com a jovem, mas, por meio da fiscalização no protocolo, é possível ajudar a evitar que o mesmo ocorra com outras pessoas”.
Para Marchese, a Secretaria da Saúde tem feito um bom trabalho, mas, com o aumento considerável no número de casos na cidade, talvez fosse necessária mais atenção de todos. “A gente sabe que é difícil conter essa pandemia, que registrou mais de 16 mil casos somente em Araraquara. Mas, se em algum momento ocorreu negligência no atendimento, levando o doente à morte, é preciso que saibamos. Desta forma, vamos cobrar uma política de atendimento mais adequada à situação.”
O documento
O requerimento protocolado pedia informação sobre a quantidade de leitos e sobre o protocolo adotado quando não há vagas disponíveis para atendimento a pacientes positivados com o novo coronavírus.
Os vereadores argumentavam que, diariamente, chegam aos gabinetes reclamações de pessoas dizendo que aguardaram atendimento na UPA junto aos demais pacientes, sem que houvesse um isolamento dos suspeitos de Covid-19. Portanto, os parlamentares também pediam informação sobre como é organizado o primeiro atendimento após a triagem, para evitar um possível contágio no local em que dá a assistência em saúde.
Resposta
No Ofício nº 380/2021, de 17 de março, o coordenador executivo de Urgência e Emergência, Fábio Henrique Marconato, explica que o município dispunha de três unidades focadas no atendimento de pacientes acometidos ou com suspeita de Covid-19: UPA “Dr. Antonio Alonso Martinez” – Vila Xavier, Unidade de Retaguarda de Urgência e Diagnóstico do Melhado, e Hospital de Campanha Covid-19 de Araraquara (Hospital da Solidariedade).
Segundo o coordenador, a UPA da Vila Xavier basicamente é a unidade “porta de entrada” para atendimento de pessoas que estejam com sintomas da Covid-19. “Nesta unidade, o paciente é acolhido, encaminhado para atendimento médico, eventualmente medicado, bem como prescrita medicação para uso em casa, quando se tratar de sintomas mais leves, e coletado material para realização de exame RT-qPCR/antígeno para constatação se está ou não acometido da doença. Quando positivado o resultado do exame, o paciente é comunicado a retornar à unidade para nova consulta médica visando analisar evolução do quadro e adoção de novas condutas, sendo encaminhado para setor separado dos demais pacientes que ainda não têm a confirmação, justamente para evitar contaminação cruzada”, detalha.
No caso de sintomas leves, o paciente é orientado a permanecer em casa, em repouso e isolamento, com uso de medicações pertinentes, bem como com a orientação de retornar ao serviço em caso de piora do quadro. “Caso o paciente esteja com sintomas graves, o profissional médico recomenda a internação do mesmo em leito de enfermaria ou até mesmo UTI, dependendo da gravidade. Em todos os casos positivados e seus ‘contactantes’, é realizado o monitoramento remoto — a equipe da Vigilância Epidemiológica faz o primeiro contato telefônico, orientando sobre os cuidados e medidas de isolamento e quarentena domiciliar (se for o caso), entrega pessoalmente o resultado do exame, com todas as orientações de cuidado, e liga diariamente ao paciente e familiares para saber suas condições de saúde e orientar sobre os cuidados e necessidade de procurar serviço de saúde, se relatada alguma piora de sintomatologia associada à doença”, completa.
Ampliação
Marconato informa que, recentemente, visando estender os polos de atendimento e desafogar o atendimento junto à UPA da Vila Xavier, a Secretaria da Saúde passou a disponibilizar atendimento em horário estendido em seis unidades básicas de saúde (Jardim Iguatemi, Santa Angelina, Jardim Paulistano, Selmi Dei, Vila Melhado e Jardim América) para atendimento de pacientes com sintomas mais leves de síndromes gripais, entre elas a Covid-19, das 7h às 20h, incluindo a coleta de SWAB, para realização de RT-qPCR.
De acordo com o coordenador, a unidade de retaguarda do Melhado e o Hospital da Solidariedade são unidades mais estruturadas, voltadas justamente à assistência hospitalar destes pacientes que foram acolhidos na UPA da Vila Xavier que apresentem sintomas mais graves. “Assim, inicialmente, o paciente em estado mais grave fica acolhido na UPA da Vila Xavier e posteriormente é removido para estas unidades onde permanecem internados, sob cuidados de equipe especializada, devidamente assistidos e monitorados, até a melhora do quadro e consequente melhora para alta hospitalar.”
O Hospital da Solidariedade dispõe de 41 leitos clínicos (enfermaria) e 30 leitos de Suporte Pulmonar Ventilatório (equivalente a UTI), enquanto a unidade de retaguarda do Melhado conta com 45 leitos clínicos de enfermaria e cinco leitos de UTI. Já a UPA da Vila Xavier dispõe de 11 leitos de enfermaria e três leitos de UTI.
“A Administração Municipal, considerando o aumento exponencial de casos, com a descoberta de nova cepa do vírus circulante em nossa cidade, vem trabalhando ainda para a ampliação de mais 20 leitos clínicos (enfermaria) e de dois leitos de estabilização com Suporte Ventilatório Pulmonar junto à UPA da Vila Xavier, por meio de reativação da “capela” anexa à unidade. Além destas unidades públicas, para atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), no município temos a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, contando com 10 leitos clínicos adulto Covid e 10 leitos UTI Adulto Covid”, informa no documento.
O coordenador lembra que todos estes leitos de Covid fazem parte de uma rede regional (24 municípios da área de abrangência do DRS III de Araraquara), onde, por regulação microrregional, todos os municípios podem ter acesso, respeitados os protocolos clínicos, relevância e gravidade dos casos dentro do que é chamado de referências primária, secundária e/ou terciária. Nesse sentido, os serviços de saúde situados no município de Araraquara são referência primária para os municípios da região de saúde “Central do DRS III” (Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança do Sul, Gavião Peixoto, Motuca, Rincão, Santa Lúcia e Trabijú), e secundária para as regiões de saúde “Centro-Oeste do DRS III” (Borborema, Ibitinga, Itápolis, Nova Europa e Tabatinga) e “Norte do DRS III” (Cândido Rodrigues, Dobrada, Matão, Santa Ernestina e Taquaritinga).
“Assim, considerando o quadro epidemiológico e necessidade de leitos para pacientes da Covid-19 de qualquer um dos 24 municípios da área de abrangência do DRS III (incluem-se nestes os da região de saúde ‘Coração do DRS III’ - Descalvado, Dourado, Ibaté, Porto Ferreira, Ribeirão Bonito e São Carlos), é incluída a necessidade deste recurso (se leito de enfermaria, de suporte ventilatório pulmonar e/ou UTI) junto ao Sistema Cross — Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde, sob responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde, que, respeitado as informações do quadro de saúde em ‘Ficha de Síndrome Gripal’, informações estas de reponsabilidade do médico assistente do paciente, são solicitadas vagas para aceite destes pacientes, respeitadas a ordem de grau de referência — por isto, os serviços situados em Araraquara atendem e recebem pacientes de outros municípios, como também, caso não tenhamos mais vagas disponíveis, solicitamos para que araraquarenses sejam aceitos e hospitalizados em outras localidades”, detalha.
Óbito
Sobre o atendimento da paciente Thainá de Cássia, Marconato esclarece que detalhes constantes na ficha de atendimento são dotados de sigilo médico profissional, que só podem ser fornecidos ao paciente, familiar legitimado ou em juízo, por requisição judicial, para fins de apuração de eventual responsabilidade civil ou criminal.
“Todavia, temos condições de esclarecer, sem ferir direito personalíssimo, que a paciente passou por atendimento na UPA da Vila Xavier em quatro oportunidades, vale dizer, em 24, 26, 29 e 30 de janeiro de 2021, sendo que no primeiro atendimento ocorrido em 24 de janeiro a paciente foi submetida à coleta de material para exame, com orientações para retorno em dois dias. Foram seguidos protocolos de praxe, sendo que, todavia, mesmo em uso de medicações prescritas, a paciente apresentou súbita piora do quadro do dia 29 para o dia 30, data em que seu atendimento se prolongou até 31 de janeiro, ocasião na qual, apesar dos inúmeros esforços da equipe, a paciente evoluiu a óbito”, finaliza.
Publicado em: 23/03/2021 13:13:13