Mobilização, relatos pessoais e pedidos de melhorias para a EJA marcam Audiência Pública

Convocado pelo vereador Guilherme Bianco (PCdoB), evento foi realizado na Câmara nesta quarta (22) e teve Plenário lotado
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Um evento com mobilização, compartilhamento de relatos pessoais, pedidos de manutenção e melhorias para a educação de jovens e adultos (EJA) em Araraquara e exaltação desse modelo de ensino. Assim foi a Audiência Pública “Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Perspectivas e Futuro”, convocada pelo vereador Guilherme Bianco (PCdoB), realizada na noite desta quarta-feira (22) na Câmara.

 

O Plenário esteve lotado com a presença de professores, gestores, estudantes, autoridades, pesquisadores, dirigentes sindicais e demais interessados na pauta. O debate tratou dos efeitos das mudanças na política estadual da EJA, da valorização dos profissionais da educação e da necessidade de fortalecer e ampliar o acesso a essa modalidade de ensino nas redes municipal e estadual.

 

Os vereadores Fabi Virgílio (PT) e Aluisio Boi (MDB) estiveram presentes. Outra autoridade que compareceu foi o secretário municipal da Educação, Fernando Diana, que anunciou a intenção do Executivo de fortalecer a estrutura da EJA a partir do próximo ano (leia abaixo mais sobre o assunto).

 

Durante a Audiência, Bianco ressaltou que a EJA representa uma política pública de reparação histórica ao garantir oportunidades de estudo para pessoas que precisaram interromper a formação escolar. O parlamentar defendeu a manutenção das salas e a ampliação das políticas de incentivo aos alunos e professores.

 

“Estou muito orgulhoso de compartilhar esta noite com gente boa, que constrói e sonha com um futuro em que Araraquara não tenha mais nenhuma pessoa que não saiba ler e não saiba escrever”, celebrou.

 

Fabiana Marini Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenadora do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (Niase) e pesquisadora sobre EJA, destacou a necessidade da luta conjunta pela garantia do oferecimento das aulas para jovens e adultos. Também falou sobre o compromisso da instituição em formar profissionais que lecionarão para esse público. “Falar da melhoria da aprendizagem também é falar de uma boa formação para nossos professores e professoras”, comentou.

 

Jarina Rodrigues Fernandes, também docente da UFSCar, ressaltou que a sociedade não pode se acomodar diante da possibilidade de reduzir recursos para a EJA. Segundo ela, a legislação prevê formas de garantir repasses. “Sonhem, sonhem muito alto, com o ensino e com a universidade. Parabéns por esse movimento em Araraquara e não vamos permitir que escolas sejam fechadas”, conclamou.

 

As falas das professoras universitárias, bem como a própria realização da Audiência Pública, vêm na esteira do recente anúncio de mudanças na política estadual de EJA: o formato proposto pelo Governo de São Paulo enfrenta críticas sobre a qualidade de ensino proposto por permitir que o aluno de ensino médio tenha mais flexibilidade de estudo, indo à escola apenas uma vez por mês para aulas presenciais. Na avaliação das acadêmicas, o ensino presencial é importante na EJA por propiciar socialização e compartilhamento de momentos além das aulas.

 

Necessidade de divulgação

 

 Maria Gorete dos Santos Netta, diretora do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos, o Neja “Irmã Edith”, apresentou dados sobre a escolarização no Município, segundo os quais 35,6% da população não concluiu a educação básica (até o fim do ensino médio).

 

Para reverter esse cenário e fortalecer a EJA, a gestora vê a necessidade de ampliar a divulgação sobre o modelo de ensino. “Tem que ser como o ‘carro do ovo’, ir até as pessoas”, comparou. Maria Gorete também ponderou sobre estratégias de retenção dos alunos, o que inclui discussões sobre segurança, transporte, acessibilidade e outras áreas.

 

Poder Executivo

 

O secretário municipal da Educação, Fernando Diana, afirmou que o Município pretende, a partir de 2026, fortalecer a estrutura da EJA, ampliar a carga horária e integrar a formação básica com cursos profissionalizantes.

 

De acordo com o titular da pasta, a demanda espontânea para a EJA é atendida em Araraquara, mas existe uma demanda reprimida em relação à qual o Município precisa adotar estratégias para angariar e manter alunos.

 

Ele anunciou ainda a intenção de criar um “cinturão educacional” na região norte da cidade, com oferta de ensino fundamental, médio e cursinho popular nas dependências da Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef) “Caic Rubens Cruz”, o que poderia ser viabilizado por meio de parcerias.

 

Relatos

 

Alunos e alunas de diferentes idades relataram histórias de superação e afirmaram que o retorno à escola transformou suas vidas. Entre as propostas discutidas, estiveram a manutenção das turmas existentes, a garantia de transporte público acessível, a divulgação permanente das matrículas e o fortalecimento da política pública de educação de jovens e adultos como direito fundamental à cidadania.

 

Maria Alice Zacharias, de São Carlos (SP), foi uma das pessoas a ir à tribuna. Ex-cortadora de cana-de-açúcar, retomou os estudos por meio da EJA e hoje atua na Secretaria da Educação da cidade e coordena o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova).

 

Aluna do Neja, de Araraquara, Elaine Cardoso, 36 anos, contou que parou de estudar aos 12 anos e hoje cursa a oitava série. “São lutas diárias, mas na EJA somos uns pelos outros”, garantiu. “Quero terminar o ensino fundamental, cursar o ensino médio e ir para a faculdade de psicologia”, projetou.

 

Jefferson Bezerra Mesquita, 27 anos, pediu ampliação da acessibilidade do Neja, já que é deficiente físico e não consegue ir à biblioteca, que fica em um andar superior.

 

Quem roubou a cena foi Lourdes Moreira dos Santos, 83 anos, que comemorou o fato de, já idosa e graças à EJA, ter aprendido a ler e escrever. Marlene dos Anjos, 63 anos, foi outra pessoa alfabetizada no Neja.

 

“Que maravilha que é estudar! Eu já tinha um pouquinho de conhecimento, mas eu fui no Neja e minha mente começou a abrir ainda mais”, acrescentou Teresa Linardo, 51 anos.

 

A EJA também é benéfica para estrangeiros: a venezuelana Nellys Mora, 61 anos, comemorou que os estudos possibilitaram uma comunicação em língua portuguesa – para ela e também para colegas da Colômbia e de Cuba.

 

Transmissão

 

A Audiência Pública contou com transmissão da TV Câmara. Clique aqui e confira como foi!

 




Publicado em: 23/10/2025 20:21:55