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Live produzida pela EL e TV Câmara debate Consciência Negra

Cientistas sociais Dagoberto Fonseca e Luiz Fernando Andrade discutiram a condição atual do negro brasileiro


Em 20 de novembro, se comemora o Dia da Consciência Negra em níveis nacional e municipal. Para marcar a data, a Escola do Legislativo (EL) e a TV Câmara de Araraquara apresentaram a live “Consciência negra: avanços e desafios”, com a participação dos cientistas sociais Dagoberto José Fonseca e Luiz Fernando Costa de Andrade.

O principal objetivo do encontro foi discutir a condição da população negra brasileira na atualidade e refletir sobre aspectos culturais, sociais e históricos que influenciam ou determinam tal condição. O público pôde participar enviando perguntas e comentários pela Internet, com emissão de certificado pela EL.

Racismo estrutural foi o primeiro tema a ser tratado. “Se a República fosse a república de todos, seria uma república da equidade, que investiria fundamentalmente em todo o seu povo para buscar um equilíbrio entre todos, e não a república que efetivamente priorizou aqueles que já tinham ganho com o processo criminoso que foi o escravismo, o tráfico, o colonialismo, que se colocou sobre a África e a América como um todo, o Brasil em especial”, levantou Fonseca. Andrade completou: “A estrutura desse país foi construída pela escravidão, que envolve diversos tipos de violência que hoje ainda não superamos. Ainda experimentamos a questão da violência, principalmente nos ataques ao homem negro, por meio do homicídio, e da mulher negra, por conta do estupro”.

Em seguida, os palestrantes discutiram ações afirmativas. Andrade lembrou que essas ações envolvendo um grupo pequeno, dentro de um grupo negro maior que consegue ter acesso a elas. “A lógica do mercado não está pronta para fazer uma reparação. Os trabalhadores estão muito distantes de ter a formação e a capacitação de que necessitariam.”

Para Fonseca, estamos em um campo minado. “Estamos diante de uma sociedade que pouco reconhece o que precisa ser feito. E aqueles que estão fazendo aquilo que precisa ser feito são rechaçados para fora ou são questionados. Ações afirmativas são um pacote amplo”, destacou.

Lugar de fala também foi debatido. “Tem que ser também uma fala dos brancos. Uma fala política, qual o lugar em que esse brancos estão?”, questionou Fonseca. “Não tenho vontade de fazer aliança com os brancos. Quero que eles assumam o protagonismo da luta sem precisar fazer aliança com os negros, pois eles têm autonomia na luta, na medida em que eles criaram o problema. Tanto quanto o homem que vai ter que enfrentar a questão do machismo, por ele. Não é pela mulher, é por ele. As mulheres e os negros já fizeram e estão fazendo sua parte. Homens precisam enfrentar a questão do machismo, do feminicídio. Os brancos precisam enfrentar essas questões para além de enfrentar o racismo. Não pode a vítima, todo tempo, ter que arcar ainda com o ônus de resolver o problema que é do outro. Os brancos têm o seu lugar de fala nessa temática, sim”, enfatizou.

No mesmo sentido, Andrade entende que “não temos tempo para falar daquilo de que precisaríamos, pois estamos muito preocupados tentando salvar nossas vidas. Isso é uma constante. Não tenho dúvidas de que hoje, mesmo uma mulher branca ou um homem branco, com a formação que tenho e com tempo de vida que tenho, com certeza vislumbra um mundo diferente do que eu vislumbro, porque ainda saio na rua com medo, ainda sou observado de uma forma suspeita. Infelizmente, ao invés de colocarmos em pauta o que precisamos discutir, ainda temos que perder tempo com comentários de pessoas que insistem em debater o conteúdo que o outro gera e não em gerar um conteúdo próprio que responda ao problema no qual ele é privilegiado”, concluiu.

Com participação intensa dos internautas no YouTube, diversas perguntas ainda foram respondidas no final da live. “Precisamos tirar a serpente da cabeça e do coração das pessoas para que Araraquara avance”, finalizou Fonseca.

 

Sobre os palestrantes

Professor doutor Dagoberto José Fonseca – Livre docente de Antropologia Brasileira na Universidade Estadual Paulista (Unesp), coordenador do Centro de Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra (Cladin) e supervisor do Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão (Nupe).

Professor Luiz Fernando Andrade – Graduado em Ciências Sociais pela Unesp e mestre em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo atuado até recentemente como coordenador executivo de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e coordenador do Centro de Referência Afro “Mestre Jorge”.

 

Acompanhe a íntegra da live aqui.

 




Publicado em: 17 de novembro de 2020

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Categoria: Escola do Legislativo

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