Organizado pela Escola do Legislativo, evento aconteceu no Plenário da Câmara Municipal
Foi encerrado na tarde da sexta-feira (29), no Plenário da Câmara Municipal, o ciclo de palestras organizado pela Escola do Legislativo (EL) que integra o “Fórum Municipal sobre Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)”, criado em 2024.
O evento gratuito foi intermediado pelo psicólogo Lucas Perches e, neste segundo e último dia, Ana Paula Poli falou sobre “TDAH e Funções Executivas: impactos na aprendizagem”, e Thais Fernanda Rodrigues finalizou as apresentações com “TDAH e Emoções Estratégicas e Práticas de Manejo Emocional”.
Ana Paula começou destacando os principais sintomas do TDAH, como postergar tarefas e/ou não finalizá-las, dificuldade em organização e hierarquização, e dificuldade de focar e sustentar a atenção.
Como explicou a pedagoga, no TDAH, as dificuldades acontecem porque o cérebro funciona de um jeito um pouco diferente. Há alterações na parte da frente do cérebro, chamada córtex pré-frontal. Ele se desenvolve lentamente (até a vida adulta) e é fundamental para a aprendizagem, a autorregulação e o comportamento social. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções que nos permitem pensar antes de agir, planejar e organizar, controlar impulsos, regular emoções e adaptar comportamentos.
Funções executivas
De acordo com a especialista, as funções executivas são um conjunto de atividades necessárias para atingir um objetivo. Entre elas estão o controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Proporcionam o bom funcionamento das funções executivas superiores de raciocínio, planejamento e resolução de problemas.
O controle inibitório é a capacidade de controlar a atenção, os comportamentos, a cognição e as emoções, inibindo tendências e predisposições, ajustando e atuando de maneira mais apropriada ao contexto/situação. Ele é importante para habilidades sociais e aprendizagem, e para a capacidade de autorregulação: pensar nas consequências da impulsividade.
A memória de trabalho envolve a habilidade de sustentar a informação na mente por tempo limitado, enquanto a utiliza para solução de algum problema. Ela oferece armazenamento temporário para entender e manipular informações, relaciona novas informações com outras já estruturadas na memória de longo prazo, requer atenção sustentada e vocabulário, e depende do controle inibitório para filtrar estímulos do ambiente.
Já a flexibilidade cognitiva diz respeito à capacidade de mudar agilmente o comportamento e ajustá-lo para atender as exigências do ambiente. Ser flexível facilita muito a adaptação rápida a uma determinada situação.
Estratégias de intervenção
Ana Paula pontuou que, entre as estratégias de intervenção em casos de TDAH, estão avaliação multidisciplinar (identificação precisa das dificuldades por diferentes profissionais, como neuropsicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo); tratamento medicamentoso (quando indicado, ajuda a controlar a atenção, mas não resolve todas as dificuldades funcionais); intervenções cognitivas (treino de funções executivas, estratégias metacognitivas, técnicas de estudo adaptadas) e adaptações escolares (modificações no ambiente, material e metodologia para facilitar a aprendizagem).
Concluindo, a pedagoga reforçou que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta diretamente as funções executivas, impactando significativamente a aprendizagem. As três funções executivas nucleares – memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva – são essenciais para o sucesso acadêmico e social.
“A intervenção eficaz requer uma abordagem multidisciplinar, considerando aspectos neurológicos, emocionais, pedagógicos e sociais. Compreender como o TDAH afeta as funções executivas permite desenvolver estratégias mais eficientes para apoiar a aprendizagem e o desenvolvimento integral”, completou.
Emoções
Em seguida, Thais abordou a regulação emocional no TDAH. “A regulação emocional é a capacidade de monitorar, avaliar e modificar as respostas emocionais para se adaptar às diferentes situações. É um processo complexo que envolve habilidades cognitivas e comportamentais”, explicou.
Segundo ela, pessoas com TDAH frequentemente experimentam desregulação emocional, manifestada por mudanças rápidas e intensas de humor, irritabilidade ou entusiasmo desproporcional. Essa dificuldade não é uma falha de caráter, mas uma característica inerente ao transtorno, resultado de diferenças na estrutura e funcionamento cerebral.
A psicóloga infantil apontou comportamentos que podem indicar desregulação emocional: birras frequentes e intensas, raiva inesperada, recusa em interagir ou cooperar, impulsividade emocional, explosões emocionais, baixa tolerância à frustração e reações desproporcionais a situações. “A dificuldade na regulação emocional em indivíduos com TDAH está intrinsecamente ligada a alterações no funcionamento cerebral.”
Alertou a especialista que, quando não compreendida, a criança pode desenvolver baixa autoestima, sentimentos de fracasso e rejeição, agressividade e outros transtornos.
Estratégias
Thais definiu como estratégias práticas para melhorar a regulação emocional o acolhimento (o apoio familiar e escolar, com comunicação clara e um ambiente acolhedor, é crucial para o desenvolvimento de habilidades emocionais) e a validação emocional (validação não significa concordar com o comportamento, mas reconhecer a emoção como legítima).
Reforçou que atividades físicas regulares e uma alimentação equilibrada são fundamentais para reduzir a hiperestimulação e promover o bem-estar geral. Destacou também que a rotina é uma das ferramentas mais importantes para ajudar crianças com TDAH, tanto em casa quanto na escola. “Ela funciona como um organizador externo, já que essas crianças costumam ter dificuldades com planejamento, controle do tempo e manutenção da atenção.”
Tratamento medicamentoso
A psicóloga infantil pontuou que, em alguns casos, medicamentos podem ser indicados para controlar sintomas do TDAH, como desatenção, hiperatividade e impulsividade, que contribuem para a desregulação emocional.
“Não são todas as crianças com TDAH que irão precisar de medicação. Porém deve sempre ter acompanhamento médico e avaliação individualizada”, disse. “Não é uma ‘cura’, mas sim um recurso que possibilita à criança ter condições de aprender, conviver e desenvolver habilidades com mais equilíbrio.”
Orientação parental
A especialista lembrou ainda que o TDAH não afeta apenas a criança, mas toda a dinâmica familiar. “Sem compreensão, surgem conflitos, punições excessivas e desgaste emocional. A orientação parental ajuda os pais a entenderem o transtorno, diferenciando comportamento proposital de dificuldades reais.
Encerrando, Thais colocou que a regulação emocional é uma habilidade que não nasce pronta, mas pode ser ensinada e estimulada. No TDAH, as dificuldades de atenção, impulsividade e hiperatividade tornam essa aprendizagem ainda mais desafiadora, mas não impossível. “Quando família e escola caminham juntas, oferecendo acolhimento, estratégias práticas e reforço positivo, a criança aprende a reconhecer, nomear e gerenciar suas emoções. Assim, conseguimos transformar explosões em oportunidades de aprendizado, fortalecer vínculos e favorecer o desenvolvimento integral da criança”, finalizou.
Sobre o evento
O encontro chegou a sua segunda edição neste ano, pretendendo promover a formação continuada da população, por meio de palestras que ofereçam conteúdos atualizados sobre essas condições específicas e estejam também relacionados a aspectos emocionais, sensoriais e cognitivos.
Na quinta-feira (28), Júlia Bueno abordou “O impacto das disfunções sensoriais nas AH/SD”, enquanto Patrícia Contreras Campesan debateu o “PEI e as Altas Habilidades/Superdotação”.
Para conferir na íntegra como foi o evento, acesse o YouTube da TV Câmara nestes links: https://www.youtube.com/watch?v=X11UHID5G9U&t=1623s e https://www.youtube.com/watch?v=_HKZK859NpY.
Sobre o mediador e as palestrantes
Lucas Perches: associado à Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, psicólogo, mestre em Psicologia, neuropsicólogo e especialista em Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico.
Ana Paula Poli: pedagoga (Unesp – Araraquara), mestra e doutora em Educação Escolar (Unesp – Araraquara), psicopedagoga clínica e institucional em avaliação e intervenção nos processos de aprendizagem (Instituto Singularidades) e especialista em Violência Escolar (Fiocruz).
Júlia Bueno: terapeuta ocupacional (Unesp), formação em Seletividade Alimentar pela SOS Approach to Feeding, Intervenção Precoce no Autismo e Certificação Internacional de Integração Sensorial de Ayres.
Patrícia Contreras Campesan: graduada em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestre em Psicologia, na linha de Análise do Comportamento e Cognição, Psicopedagoga, Membro do Grupo de Pesquisa para o Desenvolvimento do Potencial Humano (GrupoH), associada ao Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD), presidente da Associação de Licenciados em Educação Especial (ALEE). Atua com Atendimento Educacional Especializado, Ensino Colaborativo com escolas e na clínica, atendimento de crianças e adolescentes com deficiência intelectual, TEA e altas habilidades/superdotação, com foco no Plano Educacional Individualizado (PEI).
Thais Fernanda Rodrigues: psicóloga infantil especializada em Análise do Comportamento Aplicada e Habilidades Sociais.
Publicado em: 02 de setembro de 2025
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Categoria: Escola do Legislativo
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