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A nova ‘Guerra dos Canudos’ em Araraquara

'É de plástico? Então não, obrigado!'; empresários araraquarenses contam ao vereador por que optaram por canudos produzidos com materiais biodegradáveis

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Há quem pense que não é nada de mais. Você toma uma bebida ali na lanchonete, joga o seu canudo de plástico no lixo, direitinho, e está tudo resolvido. Mas não é bem assim. Na melhor das hipóteses, o estabelecimento encaminhará o material plástico para reciclagem; na mais cotidiana, vai parar em um aterro, onde levará séculos para se decompor; na pior, e assustadoramente corriqueira, vai parar no ambiente, poluindo as águas, prejudicando animais marinhos e ajudando a compor a Grande Porção de Lixo, aquela região do Oceano Pacífico que se parece com uma enorme ilha formada por resíduos flutuantes.

“Os canudos de plástico são um problema sério para o meio ambiente. Estima-se que eles representem 4% do lixo mundial”, alerta o vereador Rafael de Angeli (PSDB). “Em geral, a vida útil média de um canudinho é de apenas quatro minutos, mas ele fica no meio ambiente por séculos, levando até 400 anos para se decompor. E não é tudo. Como são feitos geralmente de polipropileno e poliestireno, não são biodegradáveis e tendem a continuar poluindo nosso mundo por muito tempo, ou pior, a se desintegrarem em pedaços menores até serem ingeridos por animais.” Angeli elaborou recentemente um projeto de lei que prevê o uso exclusivo de canudos biodegradáveis nos estabelecimentos alimentares de Araraquara. A medida vem dividindo opiniões entre proprietários, alguns entusiastas e outros receosos em relação a um possível aumento de custos. “O assunto é polêmico nas redes sociais, mas não deveria ser, já que são óbvios os malefícios do plástico no planeta”, completa o vereador. “Estamos recebendo diversas ‘fake news’ que são utilizadas como argumentos contra o projeto.”

 

Falsas publicações (“fake news”) são divulgadas nas redes. Algumas das afirmações mentirosas (e inacreditáveis):

“O preço do canudo é 40 vezes maior!” – Falso!

“Só um canudinho não causa nada ao meio ambiente!” – Falso!

“A lei altera o preço final dos produtos no varejo!” – Falso!

“Com os canudos biodegradáveis, o cidadão paga os erros do governo!” – Falso!

“Não há estudos que mostrem que os canudos plásticos possuem grande impacto poluidor!” – Falso!

“A proposta de lei prejudica pessoas deficientes que dependem de canudos” – Falso!

 

Aprovação popular e de comerciantes

Na tarde de quarta-feira (12), o vereador visitou dois estabelecimentos que já utilizam canudos produzidos com materiais biodegradáveis. Um deles é a Panificadora Bortolozzo do Centro. “Resolvemos experimentar há uns três meses. É uma iniciativa legal e não temos do que reclamar. O modelo que utilizamos é biodegradável e custa pouquíssimo mais do que o antigo, em um pacote com mil unidades embalados individualmente, por exemplo, fica só uns 10 reais a mais”, conta Bruno Bortolozzo. Segundo ele, a maioria dos clientes nem notou que tinha substituído o produto. “A qualidade é a mesma, nem dá para perceber a diferença. Quem percebe, acha legal a ideia, e acaba sendo um diferencial." O material do canudo usado por Bruno começa a se decompor em 8 meses, levando até 2 anos e meio, no máximo, para a biodegradação total.

A experiência de Simone Maria Onofre, do Espaço Café, na Vila Harmonia, foi um pouco diferente. Em agosto, motivada pela consciência ambiental, ela resolveu interromper totalmente o uso de canudos. Os clientes se dividiram. “No geral, a repercussão foi legal, muita gente nos apoiou. Mas teve gente que disse: ‘Aqui eu não venho mais’, e não voltou mesmo”, lembra. Ela acabou optando pela retomada do uso por uma questão de praticidade. “Servimos algumas bebidas, como milk shake, que são muito difíceis de beber sem um canudo. Entendemos a necessidade que os clientes apontaram.” Para se manter coerente, a solução foi comprar canudos de papel. “Estamos bancando o custo. O de papel é mais caro e, às vezes, se desmancha e precisa ser substituído”, ressalva. Simone conheceu a alternativa biodegradável, adorou e disse que adotará o novo canudo “bio” em breve para reduzir os custos. Em seu estabelecimento, ela vende também canudos de alumínio. “A intenção é que cada um tenha o seu e o leve consigo quando sair de casa. Vendemos também a escovinha para higiene, e estou encomendando capinhas de pano para guardá-los na bolsa. Muita gente tem aderido, principalmente crianças, que pedem para os pais e os incentivam a usar também. Já encomendei reposição. Os cor-de-rosa acabam muito rápido”, observa.  

 

Araraquara e os canudos

Você sabia que na cidade já existe uma lei que obriga os estabelecimentos a disponibilizarem os canudos embalados hermeticamente individualizados? “A lei atual favorece a higiene e a segurança sanitária, porém duplica o problema ambiental, pois a maioria das embalagens individuais dos canudos também é de plástico”, informa o vereador. “Nossa proposta prevê que essas embalagens também sejam biodegradáveis, podendo ser de papel, por exemplo, que desaparece em pouco tempo na natureza."

 

Tendência mundial

Ao aprovar a lei, Araraquara sairá na frente e seguirá uma tendência mundial que vem ganhando força. Mais de 14 países baniram o plástico, entre eles Bélgica, França, Indonésia, Noruega, e Nova Zelândia. Na América Latina, o primeiro a se engajar foi o Chile, seguido pelo Uruguai. A União Europeia também marcou data para banir o plástico de uso único. No Brasil, desde setembro deste ano, a Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro vem conscientizando, advertindo e, em casos de reincidência, aplicando multas a estabelecimentos que utilizam canudos de materiais não biodegradáveis. A cidade foi a primeira capital do país a proibir o uso dos canudos de plástico. A medida já foi adotada também em Santos (SP), Guarujá (SP), São José dos Campos (SP), Blumenau (SC), Santa Cruz do Sul (RS) e Santa Maria (RS), além dos estados do Espírito Santo e Rio Grande do Norte. “Realizamos várias pesquisas em nosso gabinete e posso afirmar, com certeza, que há alternativas econômicas e sustentáveis ao uso do canudo plástico”, aponta Angeli. “Além do canudo biodegradável, que tem um custo não muito superior aos canudos atualmente em uso, há opções criativas, como canudos de inox, alumínio, bambu, vidro e até mesmo comestíveis. É natural que o novo acarrete uma certa dose de incerteza, mas precisamos assumir a responsabilidade pelos danos ambientais que estamos causando e mudar nossas atitudes. Bruno e Simone, por exemplo, mostram que isso é possível.” O vereador Rafael de Angeli pretende fazer uma live, em suas redes sociais, em breve, para dialogar com a população sobre o tema.  

 

Algo bem maior em Brasília

Em abril, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou um projeto da senadora Rosa de Freitas (MDB) que tornará obrigatória a utilização de materiais biodegradáveis na composição de pratos, copos, talheres, canudos, bandejas e demais utensílios descartáveis destinados ao acondicionamento e ao manejo de alimentos prontos para o consumo em todo o país.


Publicado em: 14 de dezembro de 2018

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Categoria: Câmara

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